Wednesday, August 02, 2006

Uma noite...

- Desce uma cerveja da mais gelada, pedi pro garçom. O trabalho fora especialmente cansativo nessa quinta-feira e amanhã é sexta, depois vem feriadão. Sou filho de Deus também.

O boteco nem era um pé-sujo desses que na Lapa tem aos montes, fica ali na esquina da Mem de Sá com a Riachuelo. Do outro lado da rua, já na subida pra Santa Teresa, ficava um outro boteco, esse pé-sujo dos bons. Comi no ‘pé-limpo’ um sanduíche - porque a noite estava por começar e eu não queria perigar ficar de piriri pelas ruas desse bairro boêmio – e fui lá pro boteco do outro; até porque a cerveja era cinqüenta centavos a menos.

- Uma Brahma, por favor, pedi sem notar que atrás do balcão havia uma infinidade de garrafas de cachaça. Era Seleta, Lua Cheia, Germânia, Ferreira etc. Eu acabei me entregando à degustação. Saí do bar e daí em diante a noite foi cheia de flashes.

- Tem o que aí pra perder?, me perguntou um moleque que de idade num devia ter nem 10 anos, mas que de vida parecia mais velho do que eu. “A paciência, serve?”, respondi e nem sei se ele entendeu muito bem, sei que o menino riu e foi embora.

Meti a mão no bolso e tirei uma nota de 20 reais, como não lembrava a origem daquela fortuna, resolvi apostá-la numa dessas máquinas que a imprensa chama de caça-níquel – engraçado é que moeda, naquela máquina, não entra, não. Apertei as teclas lá e ganhei, acredite leitor, 500 reais.

Então, vi a seguinte situação: eu, bêbado, rico e na Lapa. Sorte? Vai saber...
Uma sinuca pra continuar na noite.

“E ae cretino, tá na solidão?”, “Saí do trabalho ali e num fui pra casa, não, deixei a patroa pra cuidar das crianças e decidi que hoje era meu dia”, “Lá vem tu com essas doideira tua, quer de 10?”, “Vamos pra Copa, rapaz?”, “Eu posso com as dali da Tiradentes, e olha que ainda vou ter que desenrolar”, “Vem comigo que hoje é por conta”.

O primeiro táxi que passou nós entramos, “Senhor conhece a Solaris?”, e o taxista contou uma história lá louca, falou que tinha acabado de levar duas mulheres, que elas estavam armadas, e num sei mais o quê. O Valdemir ficou meio preocupado, eu, como num entendi muito, só queria saber de chegar na casa de massagens.

O segurança da Solaris já partiu pra grosseria, porque mulato, baixinho e minguado, “só pode estar de palhaçada de querer entrar ali”. Meti a mão no bolso e ele resolveu que num ia me perguntar “onde eu roubei isso”. Lá dentro, as mulheres eram todas maravilhosas, nenhuma pro meu ‘bico’, mas hoje eu estou rico, então...

Contei isso tudo, pra resumir que agora eu tenho uma amante, me apaixonei por aquela moça lá da zona sul, e duas vezes a gente se encontra: na hora do almoço, pela discrição.

Ah, esqueci de falar do Valdemir. Até hoje ele conta que fez e aconteceu com uma mulher que era isso e aquilo. Virou motivo de chacota lá na Lapa, até uns tabefe já levou por conta disso. Eu, que não queria problemas com a patroa, num dizia nem desdizia nada. “Bebi várias cachaças, num lembro disso aí, não”, e os amigos gargalhavam.

Tuesday, August 01, 2006

outro dia (brevíssimo repente)

outro dia eu fugi dum moço qui queria mi matá
tava andando no rancho, mas do lado de lá
carregava,com muito esforço e um sol de rachar
uma bacia cheia d´água, coisa rara pros lado de cá
avistei cum zóio de águia um jagunço cavalgá
assim que me viu começou a atirá
cada pulo que eu dava era pra escapar e me salvar
dos tiro da escopeta do que queria me acabar
joguei fora aquela água que tanta falta me fará
pra ficar com minha vida que é só uma prá brincá
graça a meu bom deus ou que seja o allah
pra sorte do meu peito, consegui me livrar
num passo de elefante passei pro lado de cá
e no outro fui direto pra casa relaxar
faço meu fumo e descanso sem ninguém atrapalhar
mas num é que o jagunço se aparece por cá
não sabe que se apresentar com bom dia e bom noitar
chega calado e manso, só faz é atirar
ô cumpadi mas mudo que num sabe conversar
vou dá um jeito nesse moço pra nunca mais falar
mandei a famía imbora qu´eu tinha problema pra tratar
peguei meu trinta e oito e fui vê o que se assuncede
esse cabra mudinho eu só vô deixá a pele
matei logo o cavalo pro safado ficar a pé
num dianta corrê, nem chamá eu di zé
agora tá tarde, seu serviço deu ré
dorme em sete palmos pra baixo pra ver como é qui é
os parente do difunto qui o leve e o vele
porque o relento é meió quando num tem nada qui fede
tá noite vou dormir, com sol nascendo caço as água
que dia mais arretado, que amanhã seja sem graça

Sunday, July 30, 2006

Corro, Corro, Corro

tudo passa rápido
não observo
olho e penso
corro, corro, corro

quantos rostos
quantos gostos
quanto fosco
corro, corro, corro

carro rápido
homem lento
voa com o vento
corro, corro, corro

não tropeço
nem paro
impessam-me de seguir meu faro
corro, corro, corro

bonita face
defaz-se