Monday, May 21, 2007

um pouco de brasil – risco (V)

Afora a revelação desse tipo de suicídio entre os gaúchos, há outras formas dos homens de lidar com a vida: o risco, por exemplo. O risco que faz de médicos, fumantes, que faz as pessoas transarem sem usar camisinha, que é também o risco aparentemente gratuito dos esportes radicais. Penso comigo: “Sou desses que, se não desandar, têm a vida ganha, então porque, não raras às vezes, me exponho aos riscos gratuitos, e o faço sem culpa, ao contrário, faço com e pelo prazer?” E vi que a resposta estava na própria pergunta: é no transbordamento que está a vida. O risco, se se realiza, é acidente e acidentes são inevitáveis, não adianta usar cinto de segurança, capacete, preservativo, porque se tiver que dar errado, a camisinha estoura – vive-se como se houvesse um transcendental inexorável. O risco é incorporado como inevitável, pouco adianta lutar contra. Mas, talvez, a graça da vida seja vencer os riscos, se expor e seguir adiante. É todo dia se matar um pouco com um trago e, ao primeiro que lhe falar sobre o risco, responder: “E seu eu for atropelado num ponto de ônibus? Vou perder o prazer desse trago à toa”. Antes disso, perguntei a um amigo, ao vê-lo com um capacete na mão, se ele queria morrer, se não sabia que a moto foi feita pra cair, afinal, “só tem duas rodas” e ele me respondeu: “Morrer, eu num quero, não, mas se tiver chegado a minha hora...” Sozinho nos meus pensamentos, me lembrei disso e ri comigo mesmo.

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