Monday, May 21, 2007

um pouco de brasil – o mito da “miséria do homem primitivo” (VI)

E outra vez o óbvio que passava pelas janelas dos meus olhos, que eu via, reconhecia, mas não “materializava”. Nas minhas viagens, sempre preferi lugares isolados, pouco afetados pelo homem, ilhas, praias desertas, montanhas, mas nunca tinha parado para pensar, de um jeito sóbrio, sobre a lenda da “miséria do homem primitivo”. Eu tenho alguma relação de identidade com o povo africano, e isso me dá o sentimento de que o ideal está no passado, porque se hoje estamos aqui é porque o passado ao menos funcionou, e pensava isso porque todos os dias gritam os jornais e os esgotos que nossa sociedade ‘civilizada’ caminha para uma veloz e voraz extinção. Mas até aí, ainda assim, não tinha tornado sólido a reflexão de que vivemos numa sociedade que educa de modo a formar uma idéia na qual o presente é melhor do que o passado, que no passado os homens viviam a miséria das chuvas, das secas, das fortes ondas de calor e de frio e, vende ainda, que o homem era totalmente frágil para enfrentar essas vicissitudes. Argumentos não faltam a eles, hoje vivemos mais, temos uma infinidade de aparatos tecnológicos, a medicina garante uma enorme sobrevida. Porém, o que garante essa miséria no passado do homem? Por que esse discurso é um discurso embasado em vitórias da ciência, mas essa mesma ciência, como um câncer, se consome. O avanço científico das descobertas sobre as vidas “primitivas” levam a crer que não se morria de fome, que o homem não se matava por espaço, que não havia dominação absoluta de um povo sobre outro. Enfim, a ciência caminha para descobertas que revelam que a miséria do homem está aí hoje em dia, e quem criou as mazelas que hoje tentamos vencer foi o próprio homem.

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